Em 29 de junho de
1958, na euforia de seus 7 anos,
Afanasio festejou, na Mooca, o primeiro
t�tulo mundial da sele��o de Gilmar,
Pel� e Garrincha com a ilus�o de que o
Brasil era um pa�s feliz, sem problemas.
Brasil 5, Su�cia 2. Foi mesmo uma grande
festa em todo o Pa�s.
A Mooca era um
bairro fabril de S�o Paulo
tradicionalmente marcado pela presen�a
de imigrantes, principalmente de
fam�lias italianas. A felicidade de
Afanasio era garantida por algo al�m do
futebol. Seus pais vieram da Rom�nia
ainda garotos, casaram no Brasil e
mantinham a fam�lia numa casa simples da
Rua Cuiab�, no quarteir�o entre as Ruas
Fernando Falc�o e Pascoal Moreira, mas
onde se respirava amor, seguran�a e
dignidade. O sonho do garoto Afanasio
era ser jogador como o goleiro Gilmar ou
o beque Djalma Santos. Ou como Baltazar,
o �Cabecinha de Ouro�, goleador do seu
querido Corinthians na d�cada de 50.
Naquela �poca, a pol�tica ainda n�o
passava pela sua cabe�a, mas j� ouvia
falar nas brigas entre Adhemar de Barros
e J�nio Quadros, eternos rivais. Ali�s,
o Afanasio viria a trabalhar com J�nio,
alguns anos depois.
Numa S�o Paulo
tranq�ila, de 3 milh�es de habitantes,
de bondes, de grandes cinemas, de espa�o
para campos de futebol de v�rzea. No
plano nacional, o presidente Juscelino
Kubitschek constru�a Bras�lia, abria
estradas, erguia usinas hidrel�tricas e
estimulava as ind�strias de autom�veis,
mas n�o ficava livre de pol�micas, tanto
que J�nio Quadros, candidato de
oposi��o, ganhou as elei��es em 1960,
prometendo uma �vassoura� contra a
corrup��o.
Nos seus tempos
de garoto, estudava no Grupo Escolar
Armando Ara�jo e vivia despreocupado.
Era uma fase de descobertas. Um dia,
ouviu uma not�cia no r�dio e, intrigado,
foi perguntar ao seu pai: �O que �
caixinha?� Seu pai, Alexandre Jazadji,
sapateiro, co�ou a cabe�a e n�o evitou
responder. Explicou que o dinheiro
arrecadado em impostos nem sempre ia
para obras p�blicas e para assist�ncia
social. Havia o desvio. Mas ele
ressaltou que seria injusto dizer que
todos os pol�ticos eram corruptos. �poca
de �caixinha�, n�o de �mensal�o�.
A m�e do Afanasio,
Elena Jazadji, dona de casa ativa, nunca
deixava faltar nada para seus tr�s
filhos: Wladimir, Helena e Afanasio. Ela
cozinhava e lavava roupa. S� a roupa da
fam�lia? N�o. No dia 2 de julho de 1961,
o Afanasio montou um time de futebol de
garotos, o Mirim Santos. A sede era em
sua casa. E era dona Elena quem lavava
as camisas, meias e cal��es sujos de
barro do primeiro e do segundo times.
Em casa e na
escola, o Afanasio aprendeu li��es da
vida. Com seu pai e sua m�e, percebeu
que respeitar a sociedade era obriga��o
de qualquer um. Por que contrariar as
leis do Pa�s e as normas crist�s se uma
trajet�ria limpa pode assegurar sucesso?
Seu av� materno, Afanazie, contava
hist�rias do tempo em que foi marinheiro
do antigo Imp�rio da R�ssia. Ele narrava
as dificuldades que sua fam�lia
enfrentou na Europa, na 1.� Guerra
Mundial, na chegada do comunismo �
R�ssia, � Rom�nia e a outros pa�ses, e
explicava como decidiu migrar com a
esposa e os filhos para o Brasil, em
busca de uma vida melhor.
Elena e
Alexandre nasceram em cidades de uma
regi�o que mudou de m�os v�rias vezes: a
Bessar�bia, hoje integrante da
independente Rep�blica Mold�via. No
s�culo 19, fazia parte da R�ssia. J� no
in�cio do s�culo 20, pertenceu �
Rom�nia. Em seguida, foi tomada pela
antiga Uni�o Sovi�tica. Com a queda do
Muro de Berlim e o fim do regime
sovi�tico, Mold�via ganhou autonomia.
Foi numa Mooca
simples que o Afanasio cresceu e passou
a ser rep�rter, inicialmente escrevendo
not�cias sobre sua equipe de futebol, o
Mirim Santos, no pequeno jornal �O
Amigo�. E, depois, sendo o colunista
�Rep�rter Pepe Legal�, no jornal mensal
�Gazeta da Mooca�, numa alus�o � famosa
Escuderia Pepe Legal, ganhadora de
v�rias gincanas da R�dio e TV Record dos
Machado de Carvalho.
Al�m das �reas de
esportes e lazer, o Afanasio se
interessava por outros assuntos:
pol�tica, economia, artes, cidades,
internacional. Dos pequenos jornais para
a grande m�dia, foi um pulo que exigiu
enorme sacrif�cio e, acima de tudo,
voca��o para o Jornalismo.
Agora,
jornalista famoso, o Afanasio � lembrado
por seus amigos, pelos 40 anos de
trabalho. Com a palavra, aqueles que
conhecem bem o Afanasio.
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